Poemário.

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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Três erros em face da Morte

Terceiro - A execução do ato final.


- Antes uma pequena nota de sua narradora - 
Nem tudo é o que parece ser, leia as entrelinhas.


De um olhar panorâmico quis checar pela última vez se alguma coisa havia mudado, mas tudo estava como antes, nada havia mudado ali.
As árvores ainda se recostavam nos canteiros da avenida, as flores ainda se levantavam com a suave brisa que também tocava o seu rosto, as fileiras de poeira nas janelas vizinhas ainda se encontravam la...
Era tudo tão monótono.
Era então chegado o momento do ato final.
Decidiu escrever uma carta de despedida, a qual dizia não poder mais viver daquela maneira, se desculpou com seus familiares, disse aos amigos que cada aventura fora necessária, deixou senhas particulares no verso da carta e pediu que fossem canceladas, deixou um pequeno legado de cd's e disco de vinil a seus amigos, pela ultima vez disse que os amava e que era necessário assim faze-lo, por fim despediu-se, assinou a carta, fechou-a em um envelope e depositou-a sob a sua velha caixinha de música.


As ligações para parabeniza-la começaram logo pela manhã, a todos ela chamou para ir a sua casa por volta das dez da noite.
As horas se estenderam devagar.
Deixou tudo preparado, vestiu sua roupa preferida, penteou seus cabelos  e viu graciosidade em cada mecha.
Deixou a porta destrancada e refugiou-se em seu quarto.

Colocou seu álbum de rock preferido como trilha sonora de um ato fúnebre.
Preparou um copo com alguns comprimidos, tomou-os e deitou em sua cama...
O relógio anunciava nove e meia da noite.
Em mais dez minutos cravou em si lâminas, que a fizeram sentir o gosto de sangue que começava a escorrer na ponta de seus dedos.
Tudo escurecia naquele momento...
Por alguns segundos encontrou-se inconsciente.
E depois um turbilhão de pessoas em imagens borradas rodearam seus pensamentos.
Então alguns gritos de desespero se levantaram em volta de sua cama, eram faces conhecidas, eram pessoas que a amavam, eram apenas seus amigos.
Depois tudo escureceu.
Era então chegado seu fim ?


Caro leitor permita que sua narradora lhe fala um pouco mais pessoalmente...
Daqui imagino sua frustração ao ler a última linha dessa história.
Imagino quantos pensamentos não se levantaram ai ao seu lado.
Mas quão boa é a sensação de poder dar o desfecho a história dessa garota.
Permita-se imaginar um final a isso tudo, e assim caso não goste do final por mim escolhido, fiquei a vontade para muda-lo.
Agora então retomaremos.


Como muitos acham a Morte - que no caso também é a sua narradora, caso não tenha descoberto ainda- não é calma e indolor...
E então quando achou que tudo já havia se resolvido, seus olhos se abriram, sua visão embaçada conseguiu distinguir o quarto do hospital.
O soro pingava gota a gota para dentro de suas veias.
As lacerações em sua pele a tomavam de uma dor insuportável.
Suas lágrimas desciam sob seu rosto marcado.
A Morte em si é dolorosa, Ela se consome dentro de você, secando o sangue de suas veias uma por uma.
Ela se debateu na maca em que estava, tentou de todas as maneiras lutar contra aquilo.
Era tarde demais.
Seus olhos se afundaram num eterno paradoxo, seu corpo ficou pálido e gélido, seu coração bombeou pela última vez, sua pele era como pétalas frágeis, seus lábios eram de um começar de roxo...
Tornou-se realidade seu desejo, desde a razão, o plano e o ato final.
Era o seu fim, seus três erros em minha face, três erros em face da Morte.

                                                                        Jess.Santos

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