Poemário.

Poemário.

domingo, 29 de abril de 2012

O vigésimo segundo passageiro

Apresentando:
I - O embarque.

Era final de outono, aproximadamente uns dois dias antecediam o inverno.
Um dia calmo ao meu ver, nenhuma surpresa no decorrer deste...
O vento já soprava mais frio e logo teríamos neve em todo o lugar !
Os dois dias se estenderam...
Meu caminhar era lento até a estação de trem, já havia neve suja nas sargetas depois de tantos passos apressados.
Muitos rostos, quantas pessoas e pensamentos juntos.
Ah, pois é, esqueci de contar que posso ouvir alguns pensamentos - mas não são todos e na maioria das vezes mudam, antes que eu os consigo relacionar em tempo e espaço...
Continuaremos agora.
Enfim, estava na plataforma do meu trem, um pensamento se levantou ao meu lado, só não sabia de quem era porque haviam muitas pessoas ali.
De primeira não consegui decifra-lo.
Isso se tornou uma especie de adivinhas.
Ao final de dez pensamentos contraditórios consegui ver quem era.
Acredito que tenha havido alguma falha, pois este pensou em seu livro que estava á mão e foi assim que descobri...
Era um bom livro- de poesias- um dos meus preferidos !
O adivinhas de pensamentos era um moço novo ao que me parecia, um olhar que trazia calor mas muito distante, uma altura mediana e tatuagens que lhe desciam até o punho dos dois braços...
Seus pensamentos eram rápidos e apavorados, parecia planejar um ato que mudaria sua vida.
Confesso que isso me despertou uma curiosidade fora do meu comum.
Nem sempre me importo com os pensamentos alheios, pois não gostaria que me descobrissem !
O trem havia chegado, estava atrasado...

Os pensamentos dele ainda eram apavorados, suas mãos suavam frias, a todo instante olhava dentro do seu livro, lia alguns versos pesados e avulsos.
O moço se sentou nas poltronas que dividiam o vagão, a vigésima segunda poltrona, tornando-se assim o nosso vigésimo segundo passageiro.
O trem seguia normalmente, ao leste escuros pinheiros se confrontavam como exércitos gelados em grandes fileiras de combate. A noite já era uma mescla de neve e nuvens escuras...
Aos poucos o trem foi ficando vazio, todos os outros passageiros só pensavam em chegar logo aos seus destinos, mas o adivinhas estava mais do que preocupado, sua respiração tornava-se mais rápida e difícil.
Faltava agora duas estações até a última parada, não havia ainda conseguido decifrar o pensamento principal  dele, ainda não sabia seu plano.
Como aquilo era frustante ! Comecei então a pensar em possibilidades, mas qual delas era o objetivo dele e porque todo aquele alvoroço de pensamentos ?
                                                                                    - continua-

                                                                                                                 
                          Jess.Santos
                                                             

domingo, 8 de abril de 2012

Separação

Era bela, seu cabelo negro lhe deixava um ar misterioso.
O dia já se alongava pelas frestas da janela, ela logo levantaria...
Levantei antes dela, preparei nosso capuccino e torradas, abri a janela do nosso quarto e deixei o sol toca-la.
Abriu então os olhos, oh lindos olhos que me levam a ruína, deu-me um sorriso ainda amassado da noite dormida, colocou meu roupão sob a lingerie preta que moldava seu corpo.
Sentou- se comigo  e tomou seu capuccino já morno devido á espera...
Tomou seu banho matinal  e assim se seguiram nossas rotinas.

O sol já não estava mais presente, em seu lugar uma lua cheia prateada era rodeada por nuvens feitas como brincadeiras com fumaça, o céu era escuro e mudo.
Ela havia voltado para casa, parecia que não a via a tanto tempo, desejava seu corpo como nunca desejaria em mil anos de espera, desejava-a com um desejo maciço e permanente.
Tive-a em meus braços por um longo tempo, mas para mim ainda não tinha sido suficiente.
Ela tinha em si a droga que me mantinha por perto...
A história se repetia cotidianamente, quase como ritual.
E sem querer,decorei a sua rotina.

E então me lembrava de que nada mais era assim...
O sol já não beijava-lhe a face, ela não vestia meu roupão e também não andava pela casa de lingerie,  os capuccinos e as torradas não tinham o mesmo gosto e assim foram substituídos por um cafezinho da padaria da esquina...
E logo eu que precisava tanto dela.
E agora depois de tanto tempo, fica apenas a sensação da última conversa corriqueira, da briga então oculta até aqui, de uma não despedida...


Mas que delírio,  que pensamento estranho de se ter.
E acordando relutante procurei teu corpo...
E achei-a ali ao lado, seu sorriso-paz, seus cabelos ainda eram negros, naquele porta- retratos na cabeceira, agora virado para baixo, para essa alma doentia não ter outro desvaneio sorumbático.

                                                                             

                                                                                    
 Jess.Santos