Poemário.

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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O vigésimo segundo passageiro

Apresentando:
III - O desembarque para o ato final.

Era jovem, um jovem coração louco!
Ele já não se importava quando o mundo gritava com ele, tinha lutado pelo que lhe parecia ser certo... Talvez ele tenha parado de se importar a algum tempo, quando aqueles lábios frios o deixaram com uma lembrança devastadora que ainda o invadia nas madrugadas...

O nosso trem seguia e seus pensamentos se perderam em memórias.
Havia tanta coisa boa, eu podia ouvi-los! Haviam amigos e inúmeras partidas de vídeo-game ( nem todas ganhas,mas todas disputadíssimas!), havia um por do sol laranja e uma lua cheia prata que se refletia na água...Haviam juras de amor e quebra dessas eternas juras,isso o fez rir.
Foi um soldado sem guerras históricas, mas lutou com o mundo e contra ele... e agora o que havia restado dele ? Um jovem cujas tattoos lhe davam um ar falso de liberdade, alguém que se perdia em poesia para esquecer do mundo real e sombrio, havia restado alguém, uma alma ?
Ele se perguntava aonde tinha perdido a vontade de viver!

A neve se tornava agora mais densa, um nevoeiro se atrevia à frente das janelas do trem...
Já não haviam mais passageiros, só restava o vigésimo segundo passageiro e eu.
Quando nossa viagem começou ainda na estação minha curiosidade tinha sido despertada pelos seus pensamentos alvoroçados, mas agora já não me importava saber,queria esperar para ver o que ele havia planejado para si...E logo se tornaria real.
Estávamos a dez minutos da estação final, estávamos a dez minutos do início do fim.
A frase que se repetia em seu consciente era terrível '' Viver dói'' e continuava a repensa-la.
Com os punhos cerrados ele se levantou para o desembarque, me levantei logo após dele e seguimos para fora do trem.
A estação estava semi-deserta, apenas algumas pessoas com pensamentos avulsos, era tarde o relógio começava a avançar a madrugada.
Começou então a seguir a oeste da estação, caminhei atrás dele,logo a frente havia uma imensa árvore, cujos galhos secos pendiam cristais de gelo, a neve feria sua face e por duas vezes lhe embaçou a visão...
Olhou por algum tempo sua imagem desfocada nos cristais de gelo, mas não viu mais vida ali.
O fim havia chegado!
Recostou-se no tronco da árvore e cerrou os olhos bem apertados, quis apenas chegar a pó, mas não foi possível.
Abriu os olhos novamente e me viu, por um momento encarou-me com sua palidez de neve e então perguntou-me há quanto tempo estava ali, sentei-me ao seu lado e segurei tua mão cadavericamente gélida e disse '' Estou  aqui desde o começo''...Quis então me contar tais motivos cruéis que o levaram até ali, mas não havia mais tempo, sou apenas uma e meu trabalho se multiplica de cem em cem mil, há tantas almas para levar que não houve tempo para nenhuma outra palavra, apenas para o último pensamento que ele teve " Você foi tão tranquila".
Sendo assim, seus olhos ficaram semi-cerrados e uma leve camada de gelo começou a tomar a forma de sua face,seus lábios foram ganhando uma cor roxa, por fim sua alma se sentou tranquila e então pude me ausentar daquela neve toda, levando-o comigo, a alma do vigésimo segundo passageiro.


                                                                                                     Jess.Santos

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