Poemário.

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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Diário da Morte - O observar de uma boa menina

° Uma verdadezinha°


Eu não carrego gadanha nem foice.
Só uso um manto preto com capuz quando faz frio.
E não tenho aquelas feições de caveira que vocês parecem gostar de me atribuir a distância.
Quer saber a minha verdadeira aparência ?
Eu ajudo.
Procure um espelho enquanto continuo.

                                                                       Markus Zusak


Se você ficar a procurar dentre a multidão por uma garotinha, não vai encontra-la.
Ela cresceu, se tornou uma mulher.




Não há maneiras de mudar isso.
Aquele coração está cansado.
Um coração de dezessete anos, não era para estar assim.
Um adeus de alguns anos atrás, fez com que  ela se tornasse assim.
Era tarde, o tilintar do relógio a avisava - essa nota atravessaria a madrugada.
Mesmo assim continuou.
Desejou que algo atravessa-se aquelas paredes e a levasse dali.
Desejou que as paredes a atravessassem e levassem algo dali.
Era um modo estúpido de pensar, mas era o que lhe surgira naquele instante.
Lembrou-se de amigos e de como detestou aquela chuva.
Bons momentos, agora ela fora os guardar.
Imaginou o adeus a eles e viu como aquilo lhe doeria.
Era óbvio, era necessário e assim o fizera.
Partiu.
Não houve anseios de volta, nem promessas de manter contato, aquela parte de sua história terminava ali.
Agora era só, desejava estar só.
Caminhava...
Era o mais angustiante por do sol que ela já vira.
Riscava-se à frente de um céu pálido, ferido.
Podia ouvir notas musicais avulsas e pesadas, aquelas se depositaram em seu ombro e assim a acompanharam...
Sou eu que a observo, então vou descreve-la a você.
Eu a via de uma distância razoável - não podia estar ao seu lado, questões de... blá, blá, blá ! 
Isso não lhe interessaria agora.
Vamos voltar.
Mantinha-se em postura, podia ouvir o pulsar de seu coração cansado, algo que escorria-lhe à partir do traço de sua testa, cortou-lhe pelos lábios, deixando um fio denso de cor vermelha a lhe secar um pouco depois do pescoço.
Algumas lágrimas atreveram-se a pular, mas ela as segurou até o último momento.
Seus ossos estralavam a cada novo passo, seus braços pendiam ao lado, seus olhos eram frios, estáticos.
Parou.
O sol já havia desaparecido e em seu lugar um risco em forma de foice prateada prostava-se num céu completamente escuro e mudo.
Aquilo roubou sua respiração por duas vezes e então ela se lembrou de soltar o ar.
Não era forte, mas fingia ser a si mesma.
Percorreu o local somente com o olhar. 
Voltou a seu esconderijo do mundo real...
Achou por entre os destroços de seu passado, sua cama e nela se refugiou.
Deixou que o escuro entrasse e se acomodasse.
Proferiu a si mesma palavras rudes, veio a ânsia de grita-las, mas ela não fez.
Algumas palavras flutuaram acima dela e depois correram.
Ela esperou a asfixia do sono e este então veio.


                                                                             
                                                                          Jees.Santos

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